Exemplos de Vida reflete a beleza e a singeleza da alma feminina racionalista cristã, nos ensinamentos das nobres mulheres Maria Thomazia, Maria Cottas e Maria de Oliveira. Encontrei nestes espíritos exemplos que dizem muito a todas as mulheres ávidas por esclarecimento. Como mãe e eterna estudante desta doutrina, ao ler e transcrever cada letra de suas páginas, senti que cresci um pouco mais, e deixá-las em meu arquivo pessoal seria demais injusta para com todas, assim, publico seus exemplos e um pouco de suas biografias para quem desejar sentir a vibração e a ternura do amor existente em cada palavra. Maria de Fátima Almeida

Carnaval de ontem e de hoje - Por Maria Cottas

O Carnaval passou e com ele cessaram os abusos e a loucura.

Sempre houve Carnaval. Mas havia carnaval familiar, decente, honesto. Brincava-se com naturalidade e respeito, carros abertos, capotas arriadas, com famílias fantasiadas, circulavam pelas avenidas e jogavam-se serpentinas e confetes à vontade, mas raros eram os casos de falta de respeito.

A passagem dos préstitos, aliás verdadeiras obras de arte, a disputa entre Democráticos, o clube da elite, Fenianos e Tenentes do Diabo era algo sensacional, palmas e mais palmas à sua passagem e nos intervalos entre uns e outros continuava-se a batalha de confete e serpentinas nos carros estacionados nas principais ruas transversais da Avenida Central, hoje Rio Branco.

Quase ninguém abandonava o seu carro, pois levavam sanduíches e refrigerantes em profusão para as suas famílias. E olhem que alguns levavam a família toda e nada de desagradável acontecia.

Creio que a educação e o comedimento eram os principais motivos dessa alegria sã. As músicas que se cantava eram sugestivas e alegres. Algumas até "mexendo" com o Governo e os políticos da época, assim como os carros de crítica que todos os clubes traziam. Nunca ouvi falar em censura ou proibição dessas críticas, pois eram feitas com graça e respeito e assim bem recebidas pelos criticados.


Todos se divertiam, mas ninguém dizia que era para afogar mágoas. Se hoje essas mágoas existem pelas grandes dificuldades da vida, mesmo assim não vejo motivo de fazerem do Carnaval uma festa puramente bacanal, principalmente onde o nu é aceito nos clubes com a maior naturalidade e os abusos são maiores de ano para ano.

Foi-se a decência, o pudor e o respeito. Bebem de propósito para se excitarem até a perda da razão, porque em seu juízo perfeito, quero crer, ninguém se prestaria a papéis tão pouco dignos.

Como se briga no julgamento das fantasias que, diga-se de passagem, é um espetáculo para os olhos, pelo trabalho, imaginação e luxo, mas cujos competidores não possuem o espírito esportivo que deve existir em todas as competições. Desfeiteiam-se, xingam o júri, perdem por completo a linha, tornando aquilo que devia constituir um prazer, para os que gostam e gastam até fortunas, em dissabor e decepção.

Com franqueza, está tudo muito errado e "abagunçado" neste nosso Rio de Janeiro, tão lindo pela sua natureza, tão admirado pelos turistas estrangeiros, mas onde o povo dá uma decepcionante demonstração de falta de esportividade e educação.

Se querem se divertir nesses dias, afogar as mágoas como dizem, que o façam com mais comedimento, como criaturas educadas e por que não dizer, verdadeiramente civilizadas.

Carnaval na década de 1950

 

Carnaval de ontem e de hoje
Por Maria Cottas

Fonte: Livro Crônicas Oportunas