Sempre
houve Carnaval. Mas havia carnaval familiar, decente, honesto. Brincava-se com
naturalidade e respeito, carros abertos, capotas arriadas, com famílias
fantasiadas, circulavam pelas avenidas e jogavam-se serpentinas e confetes à
vontade, mas raros eram os casos de falta de respeito.
A passagem dos préstitos, aliás verdadeiras obras de arte, a disputa entre Democráticos, o clube da elite, Fenianos e Tenentes do Diabo era algo sensacional, palmas e mais palmas à sua passagem e nos intervalos entre uns e outros continuava-se a batalha de confete e serpentinas nos carros estacionados nas principais ruas transversais da Avenida Central, hoje Rio Branco.
A passagem dos préstitos, aliás verdadeiras obras de arte, a disputa entre Democráticos, o clube da elite, Fenianos e Tenentes do Diabo era algo sensacional, palmas e mais palmas à sua passagem e nos intervalos entre uns e outros continuava-se a batalha de confete e serpentinas nos carros estacionados nas principais ruas transversais da Avenida Central, hoje Rio Branco.
Quase ninguém abandonava o seu carro, pois levavam sanduíches e refrigerantes em profusão para as suas famílias. E olhem que alguns levavam a família toda e nada de desagradável acontecia.
Creio que a educação e o comedimento eram os principais motivos dessa alegria sã. As músicas que se cantava eram sugestivas e alegres. Algumas até "mexendo" com o Governo e os políticos da época, assim como os carros de crítica que todos os clubes traziam. Nunca ouvi falar em censura ou proibição dessas críticas, pois eram feitas com graça e respeito e assim bem recebidas pelos criticados.
Todos se divertiam, mas ninguém dizia que era para afogar mágoas. Se hoje essas mágoas existem pelas grandes dificuldades da vida, mesmo assim não vejo motivo de fazerem do Carnaval uma festa puramente bacanal, principalmente onde o nu é aceito nos clubes com a maior naturalidade e os abusos são maiores de ano para ano.
Foi-se a decência, o pudor e o respeito. Bebem de propósito para se excitarem até a perda da razão, porque em seu juízo perfeito, quero crer, ninguém se prestaria a papéis tão pouco dignos.
Como se briga no julgamento das fantasias que, diga-se de passagem, é um espetáculo para os olhos, pelo trabalho, imaginação e luxo, mas cujos competidores não possuem o espírito esportivo que deve existir em todas as competições. Desfeiteiam-se, xingam o júri, perdem por completo a linha, tornando aquilo que devia constituir um prazer, para os que gostam e gastam até fortunas, em dissabor e decepção.
Com franqueza, está tudo muito errado e "abagunçado" neste nosso Rio de Janeiro, tão lindo pela sua natureza, tão admirado pelos turistas estrangeiros, mas onde o povo dá uma decepcionante demonstração de falta de esportividade e educação.
Se querem se divertir nesses dias, afogar as mágoas como dizem, que o façam com mais comedimento, como criaturas educadas e por que não dizer, verdadeiramente civilizadas.
Carnaval na década de 1950
Carnaval de ontem e de hoje
Por Maria
Cottas
Fonte: Livro
Crônicas Oportunas