Com o mesmo bom ar que com que pões um bonito chapéu em tua cabeça, um anel em teu dedo, uma flor em teu seio, põe em teus lábios um sorriso, mulher!
Já sei o que me dirás: que não podes fingir, que não é possível mostrar alegria quando se sente a tristeza na alma; que a melancolia e apoderou de ti e que vives com o teu pensamento enublado, pois tua vida está longe de ser calma e feliz... Falarás de teu amor incompreendido, da ingratidão de alguém que te deprime e amargura.
Dir-me-ás muito mais, mas, acaso desconheço eu as mil formas com que se apreenda, ante a criatura humana, esse monstro perverso que se chama a dor?
Dize-me, porém, estás segura, bem segura de que a causa de tua tristeza, desse amargo estado de ânimo que oprime tua alma, que crispa teus lábios com o ricto da melancolia é tão grave como tu a entes?
Responderás logo que sim. Sempre nos parece irremediável o mal de que padecemos. Todos temos, velhos e moços, a inclinação de tornar maiores os nossos sofrimentos, para inspirar comiseração aos outros.
No entanto, um olhar observador em torno e veremos, a cada passo, quadros de dor e de tristeza que, comparados com o que nos sucede, reduzirá, de muito, nossa impressão de sofrimento.
- Mas, quem nos convencerá de que a nossa dor não é a maior de todas?
Temos sempre a ideia de que nascemos para ser felizes, para não nos demoramos a pensar se o que sofremos é fruto de nossa culpa ou falta de raciocínio; só sabemos que padecemos e nos revoltamos como o sofrimento. O erro de nossa conduta ante a dor provém da concepção errada que temos da vida!
A existência humana não é, nem pode ser um estado de felicidade perene.
A vida nos dá luz e sombra, agitação e calma, dias bonançosos e tormentosos.
O prazer e a alegria não podem ser eternos e inalteráveis, pois, se assim fossem, não lhes saberíamos dar valor.
A vida é um campo de experiência donde devemos extrair conclusões que nos ensinem a viver cada vez melhor.
Compreendemos, pois que a nossa existência é de trabalhos, e não pretendamos dela maior prazer nem mais alegria do que razoavelmente ela nos pode oferecer, sobretudo se soubermos evitar a dor com prudência.
Tu, mulher, que sentiste penetrar essa intrusa no campo espiritual de tua vida, não recues. Contempla-a de frente, e, com serenidade, sorri.
Não importa que esse sorriso seja triste, melancólico e débil como o Sol que se infiltra entre nuvens borrascosas. Sorri sempre, pois sorrir e sofrer é a missão da alma feminina.
Muitas vezes a dor é tão grande que nos causa pavor. Mas nosso valor deve sobrepor-se à sua influência e reduzir sua magnitude às proporções reais.
Da mesma maneira, pois, com que colocas teu bonito chapéu, um anel em teu dedo, uma flor em teu peito, põe sempre em teus lábios um sorriso, mulher!
Sorri, Mulher
Por Maria Cottas
Fonte: Livro Folhas Esparsas (edição esgotada)
Já sei o que me dirás: que não podes fingir, que não é possível mostrar alegria quando se sente a tristeza na alma; que a melancolia e apoderou de ti e que vives com o teu pensamento enublado, pois tua vida está longe de ser calma e feliz... Falarás de teu amor incompreendido, da ingratidão de alguém que te deprime e amargura.
Fonte: Cabo Verde é Vida / Mulher |
Dir-me-ás muito mais, mas, acaso desconheço eu as mil formas com que se apreenda, ante a criatura humana, esse monstro perverso que se chama a dor?
Dize-me, porém, estás segura, bem segura de que a causa de tua tristeza, desse amargo estado de ânimo que oprime tua alma, que crispa teus lábios com o ricto da melancolia é tão grave como tu a entes?
Responderás logo que sim. Sempre nos parece irremediável o mal de que padecemos. Todos temos, velhos e moços, a inclinação de tornar maiores os nossos sofrimentos, para inspirar comiseração aos outros.
No entanto, um olhar observador em torno e veremos, a cada passo, quadros de dor e de tristeza que, comparados com o que nos sucede, reduzirá, de muito, nossa impressão de sofrimento.
- Mas, quem nos convencerá de que a nossa dor não é a maior de todas?
Temos sempre a ideia de que nascemos para ser felizes, para não nos demoramos a pensar se o que sofremos é fruto de nossa culpa ou falta de raciocínio; só sabemos que padecemos e nos revoltamos como o sofrimento. O erro de nossa conduta ante a dor provém da concepção errada que temos da vida!
A existência humana não é, nem pode ser um estado de felicidade perene.
A vida nos dá luz e sombra, agitação e calma, dias bonançosos e tormentosos.
Fonte: Cabo Verde é Vida / Mulher |
O prazer e a alegria não podem ser eternos e inalteráveis, pois, se assim fossem, não lhes saberíamos dar valor.
A vida é um campo de experiência donde devemos extrair conclusões que nos ensinem a viver cada vez melhor.
Compreendemos, pois que a nossa existência é de trabalhos, e não pretendamos dela maior prazer nem mais alegria do que razoavelmente ela nos pode oferecer, sobretudo se soubermos evitar a dor com prudência.
Tu, mulher, que sentiste penetrar essa intrusa no campo espiritual de tua vida, não recues. Contempla-a de frente, e, com serenidade, sorri.
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Não importa que esse sorriso seja triste, melancólico e débil como o Sol que se infiltra entre nuvens borrascosas. Sorri sempre, pois sorrir e sofrer é a missão da alma feminina.
Muitas vezes a dor é tão grande que nos causa pavor. Mas nosso valor deve sobrepor-se à sua influência e reduzir sua magnitude às proporções reais.
Da mesma maneira, pois, com que colocas teu bonito chapéu, um anel em teu dedo, uma flor em teu peito, põe sempre em teus lábios um sorriso, mulher!
Sorri, Mulher
Por Maria Cottas
Fonte: Livro Folhas Esparsas (edição esgotada)