Exemplos de Vida reflete a beleza e a singeleza da alma feminina racionalista cristã, nos ensinamentos das nobres mulheres Maria Thomazia, Maria Cottas e Maria de Oliveira. Encontrei nestes espíritos exemplos que dizem muito a todas as mulheres ávidas por esclarecimento. Como mãe e eterna estudante desta doutrina, ao ler e transcrever cada letra de suas páginas, senti que cresci um pouco mais, e deixá-las em meu arquivo pessoal seria demais injusta para com todas, assim, publico seus exemplos e um pouco de suas biografias para quem desejar sentir a vibração e a ternura do amor existente em cada palavra. Maria de Fátima Almeida

Juventude exaltada - Por Maria Cottas

Tristes, muito tristes, foram os últimos dias que vivemos no Rio e em outros Estados. Incompreensão, luta e morte.
Ardente como é toda a mocidade, facilmente se deixa levar pelos primeiros impulsos e resolve reclamar o que lhe devem: o direito de estudar. Mas, com a impetuosidade da idade fê-lo talvez numa hora imprópria, no momento errado em que ânimos exaltados e com interesses inconfessáveis se aproveitaram dessa atitude estudantil e dela se serviram para provocarem revolta maior, distúrbios e depredações.

Segundo relatou a imprensa, houve realmente violência por parte daqueles a quem estava entregue a manutenção da ordem e usando de selvageria colheram a mocidade desprevenida, ferindo-a e matando até um jovem estudante. No entanto, há tantos ladrões e assassinos aí a solta, bandidos de verdade, embora muitos encapuzados e aboletados elegantemente em seus carros de luxos.
 
E assim, numa vertigem de violência de parte a parte, vidas preciosas foram sacrificadas por uma causa justa que podia ser reivindicada de outra maneira, proporcionando-se enfim melhores dias para a juventude.
Sabemos que há sempre, nessas ocasiões intromissão de elementos espúrios e indesejáveis que se aproveitam dos jovens para perturbar a ordem e fazer maior confusão. Lembrem-se porém, só dos moços, daqueles que querem estudar e não podem por falta de recursos, e ajudem esses jovens porque até estar concorrendo para dar homens mais úteis ao Brasil do que talvez aqueles que, indiferentes à reivindicação de seus direitos estudantis, mantêm-se em posto de responsabilidade, de braços cruzados, a tudo se acomodando.
Seja como for, cabe aos estudantes, a essa juventude que não é o Brasil de amanhã, mas o Brasil de hoje, esse Brasil que precisa tanto de quem o governe conscientemente e de acordo com a evolução do mundo, o direito de reclamar, de protestar, já que suas solicitações não surtem nenhum efeito.
Se a nação a compreender, a ajudar e for ao encontro de suas reivindicações, ela, a mocidade, que apresenta a força viva, o sangue novo, a alma ardente, nos levará sem dúvida, a destinos bem mais brilhantes. Mas, matar, nunca! Matar um jovem é cortar uma planta pela raiz, é sufocar um ideal acalentado! Deve haver outros meios, mais suaves e humanos, de manter a ordem e de acalmar esses moços, quando exaltados.
Com brutalidade e violência nada se consegue. Se os próprios Pais precisam de tato e compreensão, como querem aclamar ânimos revoltados, uns, pela fome; outros além de recursos monetários, por deficiências dentro das próprias faculdades, de instrumentos de trabalho, como cadáveres, para os estudantes de medicina poderem escalpelar e estudar à vontade?!...
Facilite-se ao estudante meios para que ele possa estudar e dê, assim, expansão à sua inteligência e, estamos certos, ele se acalmará. Os próprios subversivos, que no seio estudantil estiverem, acabarão se rendendo à evidência dos fatos, porque aí não haverá mais motivos de subversão.
 
E a necessidade e a fome a causa de muitos desajustes!
Gosto de moços, aprecio a juventude, e embora reconheça que há muita irreverência e falta de respeito entre alguns, reconheço também que há muita inteligência, muita ânsia de saber de muitos e que nós precisamos dos moços para melhorar a mentalidade do Brasil que, sendo um país novo, encontra-se agora com sua mocidade completamente desarvorada.
Juventude exaltada
Por Maria Cottas

Fonte: Livro Crônicas Oportunas